Depois de hoje percebo que talvez seja tarde demais pra fazer com que as pessoas enxerguem o que está acontecendo no país.
Caderno de questões, às 13h30, primeira questão: Culpa do desemprego? Eu quase chorei ao marcar que “o desemprego é uma consequência prática da globalização”. E acreditem, esse é o gabarito certo!
Respirei fundo, continuei, mas no final vi que a prova estava encharcada de conceitos engessados. Não houve sequer uma citação à crise econômica ou política pela qual passa o país. Quem lê a prova sai com a impressão de que a crise de 2008 segue sendo o assunto mais relevante para a maioria dos estudantes do que a realidade atual do país.
Desculpe, mas não consigo ver isso como normal, sabe? Que prova nacional e democrática é essa que você precisa marcar como resposta às questões, falácias de um determinado grupo político?
Ao voltar a minha vida normal, segunda-feira, provavelmente devo apenas me lembrar que minha dignidade ficou perdida naquela sala, junto ao cartão resposta, onde em certo momento fui obrigada a interpretar textos do MST e analisar dados de organizações e autores partidários. E marcar as ideias defendidas por eles como a resposta correta. A lição do dia é que “felizmente” (com todas, todas, todas as aspas do mundo) nossas crianças mal aprendem português, ciência e matemática. De fato, se fosse para elas aprenderem o que cobra o Enem, o melhor caminho ainda é ser (menos) ignorante. Não me oponho a exposição de ideias contrárias a minha. Eu mesma quero continuar defendendo até o fim o direito de todos de se expressarem. Porém, continuo defendendo que o melhor aluno e o melhor concurseiro é aquele que o deixam pesquisar pela sua própria cabeça, e não pela cabeça enrijecida e atrasada de terceiros.
Me sinto triste, de verdade.
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